Descobrir o sexo do filho é um passo importante para muitos pais. No entanto, as diferenças entre feto masculino e feminino são rodeadas por mitos e explicações não-científicas. Então, como saber se estamos agindo corretamente?
Antes de falarmos especificamente das mudanças entre gêneros, precisamos passar por alguns conceitos biológicos para compreender o caráter humano. Por necessidade, seja ela de qualquer natureza, alguns seres vivos são monóicos, ou seja, que possuem os dois sexos - conhecidos como hermafroditas. Esse tipo de especialização genética facilita a reprodução da espécie - objetivo observado em todos os seres.
Já os humanos são caracterizados por serem dioicos, isto é, indivíduos divididos entre masculinos e femininos. O fator determinante para tornar, biologicamente, um bebê “homem ou mulher” depende da sua composição genética.
Esse é o principal aspecto na hora de discutir as diferenças entre feto masculino e feminino. Se nos cromossomos (estrutura celular que abriga o material genético) sexuais forem encontrados dois X, isso simbolizará um ser feminino. Porém, caso sejam achados um X e um Y, temos um ser masculino.
A classificação em XX e XY é uma padronização científica para indicar que indivíduos femininos possuem cromossomos sexuais iguais (homogaméticos), e masculinos, diferentes (heterogaméticos). Em outros seres vivos, o padrão muda. Por exemplo, as aves que possuem cromossomos iguais são os machos, representados por ZZ. As fêmeas, neste caso, são representadas por ZW.
Como é formado o sexo do bebê?
Um mito comum e recorrente nesse assunto é imaginar que o sexo do bebê pode ser escolhido, seja lá de que forma. Porém, na verdade, a combinação XX ou XY é formada ainda no momento da fecundação. Como são homogaméticas, o único cromossomo sexual doado pela mãe será o X. As diferenças entre feto masculino e feminino serão introduzidas pela informação genética presente no espermatozoide X ou Y - menina ou menino, respectivamente. O primeiro gameta que chegar ao óvulo será o decisivo.
A única possibilidade de escolha é no processo conhecido por inseminação artificial. Por ser em laboratório, é possível uma maior autonomia em relação ao sexo do bebê. No entanto, o procedimento é regulado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e possui normas, como idade máxima.
Como descobrir o sexo do bebê?
Dita a explicação biológica entre os sexos, é possível para os pais descobrirem qual é a ‘configuração genética’ de seus filhos, e, portanto, se são menino ou menina. Veja:
Ultrassom
Até a 12ª semana de gestação, não existem significativas diferenças entre o feto masculino e feminino. A partir da data, é possível descobrir, através da ultrassonografia, qual é o sexo do bebê.
O ultrassom consiste em um exame de imagem não invasivo, que serve, principalmente, para assegurar o desenvolvimento saudável do bebê. Se a gravidez já estiver em um estágio avançado, os órgãos sexuais poderão ser vistos. Porém, não se trata de um procedimento infalível. O médico pode fazer uma leitura equivocada devido a dificuldades para enxergar, por exemplo.
Antes do desenvolvimento do pênis ou vagina, os fetos possuem o tubérculo genital. Existem estudos que associam a inclinação do órgão com o desenvolvimento em menina ou menino. Se o tubérculo estiver a mais de 30 graus em relação à coluna, o feto é masculino. Caso esse ângulo seja menor, é feminino.
Amniocentese
Assim como o ultrassom, esse exame visa, sobretudo, à identificação de doenças. No entanto, seu método é invasivo, consistindo na retirada do líquido amniótico - que enche o saco onde o feto se desenvolve.
O líquido é rico em material genético, o que torna possível a descoberta dos cromossomos sexuais e de outras doenças. A taxa de acerto é de 100%. Mas, por ser invasivo, o procedimento possui riscos; portanto, requer autorização médica. Pode ser feito a partir da 15ª semana de gestação.
Sexagem fetal
Outro método que consegue identificar as diferenças entre o feto masculino e feminino é a sexagem, em exame composto pela coleta de sangue da grávida. Nele, está presente o DNA do bebê. As amostras de material genético do feto conseguem romper a barreira placentária e circulam no sangue da mãe. Como as mulheres possuem apenas cromossomos X, significa que, caso seja encontrado um Y, o sexo do bebê é masculino.
A sexagem pode ser feita a partir da 8ª semana de gestação, quando existe maior presença de material genético circulando. Se forem encontradas apenas amostras XX, será uma menina.
Vale ressaltar que a taxa de acerto do exame supera os 99%, caso este seja feito entre a 8ª e a 10ª semana. O ponto negativo fica por conta do preço, que pode variar entre 300 e 500 reais.
Amostragem de vilosidades coriônicas (CVS)
Este teste ocorre geralmente para constatar a síndrome de down - um distúrbio no cromossomo 21. Trata-se de um exame de alto risco, que deve ser realizado somente com prescrição médica. Entre os riscos estão: cólicas, sangramentos, vazamentos do líquido amniótico, aborto espontâneo ou parto prematuro.
Mitos sobre as diferenças entre o feto masculino e feminino
Tanto do ponto de vista biológico quanto do psicológico, o processo de gestação é bastante complexo. Os sintomas e efeitos variam para cada indivíduo, como enjoo, tamanho da barriga etc. Isso faz com que muitas pessoas se equivoquem ao tentar definir se o bebê é menino ou menina. Vamos agora explicar alguns desses mitos envolvidos.
Gravidez de menina causa mais náuseas
Estudos realizados pela revista Science sugerem que grávidas de meninas tendem a sofrer mais com enjoos do que quem carrega um feto masculino. No entanto, isso não é uma regra, tampouco um fator determinante para o sexo.
Barrigas diferentes para menino e menina
Este é um mito extremamente difundido sobre a gravidez. O formato e tamanho da barriga da genitora são influenciados pelo biotipo, tamanho, peso, posição do feto, tempo de gestação, dentre outros. Não existe qualquer pesquisa científica que relacione a barriga da mãe com o sexo do bebê.
Na amostragem são coletadas informações de um tecido encontrado na placenta: a vilosidade coriônica. Como o procedimento faz a decodificação genética do material, é possível saber o sexo do bebê através dele.
Grávidas de menino ganham mais peso
Por necessidades fisiológicas, os fetos masculinos gastam mais calorias e, consequentemente, levam as mães a comerem mais para suprir o déficit calórico. Mas, novamente, não existe qualquer embasamento científico para defender essa tese.
O ritmo cardíaco
Alguns estudos já foram feitos para tentar correlacionar os fetos e seu ritmo cardíaco; porém, nenhum deles chegou a uma conclusão que corroborasse a iniciativa.
Um desses estudos, em 1999, sugeriu que os fetos femininos aumentam seus batimentos nos dias anteriores ao parto, enquanto o ritmo dos masculinos se mantém. Ainda assim, não foram informados maiores detalhes.
Teste da aliança
A ideia de suspender uma aliança por um fio, e utilizar os movimentos que ela faz para deduzir o sexo da criança, geralmente é difundido por pessoas mais velhas. O teste, porém, não possui qualquer comprovação científica, pois fetos não emitem magnetismo para conseguir movimentar o anel.
Gravidez de menino geram mais complicações
A Universidade de Adelaide, na Austrália, realizou alguns estudos a respeito do assunto, mas, mais uma vez, nenhum resultado foi conclusivo. Porém, vale destacar que existem indícios de que a gravidez de meninos possuem maior relação com complicações.
Por isso, é importante fazer o acompanhamento pré-natal e seguir as recomendações médicas.
Desejo de doce
Geralmente, a vontade de comer doces está ligada à gravidez de meninos. Porém, os conhecidos desejos de grávida, na verdade, se relacionam com o paladar da própria gestante, e podem variar até mesmo a cada gravidez.
Doenças hereditárias: o caso da família Romanov
Ao longo do texto, foram discutidas as diferenças entre feto masculino e feminino. Lembremos: as configurações de XX e XY dependem do material genético entregue pelo pai. A exemplo do sexo, o material genético é responsável por outras características, como doenças. Mas o que a família Romanov tem a ver com isso? Vamos analisar!
Para contextualizar, o Czar Nicolau II, da família imperial Romanov, foi o último monarca russo, deposto em 1917 pela revolução. Nessa época, era comum o casamento consanguíneo, entre parentes. Nicolau casou-se com Alexandra Federova, neta da rainha Vitória, do Reino Unido, e “meio prima” de Nicolau. Alexandra era portadora de hemofilia - um de seus cromossomos X tinha falhas no fator de coagulação no sangue. O gene havia sido herdado da rainha Vitória, e como mulheres apenas podem ‘dar’ o cromossomo X na reprodução, o problema se espalhou para o resto da família.
As mulheres que receberam o gene defeituoso não eram tão afetadas, pois como são homogaméticas, a coagulação era corrigida pelo segundo cromossomo X. Os homens, porém, contraiam a hemofilia, que ficou conhecida como a doença real. O terceiro e único filho homem entre Nicolau e Alexandra foi um exemplo disso. Como homens são heterogaméticos, o cromossomo responsável pela coagulação do sangue de Alexei era o X defeituoso; e o segundo era o Y recebido do pai.
A ligação entre Alexei e a rainha Vitória do Reino Unido só foi descoberta anos depois, com o desenvolvimento de testes de DNA, que comprovaram a herança hemofílica deixada pela monarca. Os testes funcionam com a mesma lógica que o exame de sexagem, por exemplo.
O descobrimento do caso da família Romanov representa vários testes citados neste texto. E mostram a importância da tecnologia para além do descobrimento do sexo, bem como do acompanhamento médico.