O Método Ramzi é uma alternativa para mamães e papais que querem descobrir o sexo do bebê o quanto antes. Mas fica a pergunta: ele é confiável?
A partir do momento em que descobrimos que carregamos uma vida dentro de nós, não vemos a hora de saber se é menino ou menina, não é mesmo? Afinal, não se trata apenas da curiosidade em si, mas também da possibilidade de planejar com calma o enxoval, a decoração do quarto, a escolha do nome etc. E não é só. Se o casal possui histórico familiar de doenças genéticas ligadas aos cromossomos sexuais, por exemplo, saber o sexo do bebê precocemente significa obter informações sobre o risco de problemas similares no feto.
Portanto, essa descoberta é muito mais do que simplesmente saciar a ansiedade. E o Método Ramzi aparece como alternativa para trazer mais rapidamente a notícia durante os exames de ultrassonografia (já a partir da 6ª semana).
Você conhece o Método Ramzi? Sabe se é eficiente ou não? Leia a matéria e obtenha a informação! Primeiramente, explicaremos os exames existentes para descoberta do sexo do bebê, e, depois, detalharemos o Método Ramzi.
Ultrassonografia fetal
Exame não invasivo que mostra a imagem do bebê no ventre materno - além da placenta e órgãos anexos - por meio de ondas de som.
Essas ondas possuem alta frequência, são inofensivas e não podem ser escutadas pelo ouvido humano. São emitidas pelos cristais dos transdutores e codificadas pelo computador, revelando o formato do bebê em imagens de vídeo. Elas também são aplicadas ao sonar - aquele aparelho usado pelos obstetras para ouvir os batimentos cardíacos do feto.
Não há comprovação de nenhum efeito nocivo causado pela ultrassonografia fetal simples para diagnóstico, nem à mãe, nem ao bebê.
Primeiro trimestre
O primeiro ultrassom - via transvaginal - pode determinar com maior precisão a idade gestacional, bem como checar a vitalidade do embrião por meio de batimentos cardíacos. Além disso, é nesse momento que são descartadas as possibilidades de aborto, gestação ectópica (fora do útero), gestação molar, e verificar a existência ou não de mais um embrião ou áreas de descolamento.
Segundo trimestre
Aqui, ocorre o ultrassom morfológico. Nesse período - entre a 12ª e a 24ª semana, o objetivo é avaliar se o bebê não possui características relacionadas a alterações cromossômicas. Em outras palavras, é verificado se existe risco de ter enfermidades como a síndrome de Down.
Por volta da 12ª semana, pode-se examinar também as artérias uterinas da mãe, a fim de calcular o risco de pré-eclâmpsia, em método baseado no protocolo da Fetal Medicine Foundation.
Terceiro trimestre
Nessa época - geralmente na 34ª semana - chega a vez do ultrassom obstétrico, a fim de analisar o crescimento fetal, determinar a posição da placenta (e do feto), grau de maturidade, quantidade de líquido amniótico. Também faz uma reavaliação da anatomia fetal, de modo a complementar a análise realizada anteriormente no ultrassom morfológico.
Para mamães e papais que têm curiosidade e condições de ver o rostinho do bebê com maior nitidez, há a opção da ultrassonografia 4D.
Sexagem fetal
Uma simples amostra de sangue da mãe pode identificar o sexo do bebê já na oitava semana de gestação. Isso ocorre devido a uma técnica de biologia molecular que permite acessar o material genético do feto através do sangue materno.
Para entender o exame, partimos da seguinte premissa: só indivíduos do sexo masculino possuem o cromossomo Y (o outro tipo é o X). Pois bem, a sexagem fetal consiste em verificar a presença desse cromossomo no sangue da gestante. Caso encontre, significa que o bebê é um menino; se não, trata-se de um bebê “XX” - portanto, menina.
No entanto, existem alguns impeditivos para a realização desse exame. Por exemplo, se a gestante tiver recebido sangue ou passado por um transplante de órgãos cujo doador era homem. Outro ponto é caso a grávida tenha realizado algum procedimento de fertilização com outros embriões, isso porque, mesmo não sobrevivendo, suas células continuam no sangue materno.
Por fim, há a possibilidade de contaminação da amostra no laboratório.
O que é o Método Ramzi?
O termo surgiu em 2011, quando Saam Ramzi Ismail publicou um artigo no qual descreve ser possível determinar, já na sexta semana de gestação, o sexo do bebê a partir do conteúdo fetal observado em ultrassonografias.
Após realizar seus estudos entre 1997 e 2007, Ramzi concluiu que a orientação e a posição da placenta eram as peças-chave para se obter a resposta antes mesmo do exame de sexagem fetal. Os testes ocorreram da seguinte forma: 5.376 gestantes foram submetidas a um exame de ultrassonografia fetal com 6 semanas de gravidez - 22% pela via transvaginal, e 78% pela via transabdominal. Com 18 a 20 semanas, repetiu-se o procedimento.
Em 97,2% dos fetos do sexo masculino, a placenta estava implantada no lado direito do útero, enquanto que em 97,5% dos fetos do sexo feminino, a placenta estava implantada no lado esquerdo.
Portanto, não é de se espantar que o Método Ramzi rapidamente tenha adquirido popularidade entre diversas futuras mamães, sobretudo aquelas que querem logo saber o sexo da vida que carrega em seus ventres.
Passo a passo do Método Ramzi
Descobrir a posição da placenta
A placenta se forma ao longo do primeiro trimestre da gestação, e é responsável por nutrir e transportar oxigênio ao bebê. Enquanto ela não está pronta, cabe ao corpo lúteo produzir os hormônios que mantêm o feto saudável.
Aos poucos, são criadas as chamadas vilosidades coriônicas (ligações entre a placenta e o útero da mãe). Portanto, no momento da descoberta do sexo do bebê pelo Método Ramzi, é por meio da posição dessas substâncias que isso acontece. As vilosidades coriônicas são a futura placenta.
Procurar a área ao redor do saco gestacional
Tanto no primeiro, quanto no segundo ultrassom, ainda é possível identificar o sexo pela posição da placenta. Para isso, basta observar a área brilhante ao redor do saco gestacional, ou seja, o local onde fica o embrião.
O ultrassom permite verificar uma parte mais brilhante próxima a essa área; trata-se justamente das vilosidades coriônicas junto com a placenta em formação ou já formada. Nesse momento, elas ficam mais claras devido à intensa circulação sanguínea.
A teoria funciona para gêmeos?
Não existe uma informação “pronta” sobre isso. Nesse caso, cabe analisar a questão pela lógica: em vez de um, serão dois fetos analisados; portanto, o dobro de dificuldade para acertar.
Nos estágios iniciais da gravidez, é mais complicado prever se serão dois meninos, duas meninas ou um de cada. Frequentemente, quando há gêmeos, existem duas placentas. Dessa forma, você deve ficar bastante atenta ao posicionamento de ambas.
Dúvidas geradas pelo Método Ramzi
Apesar da popularidade atingida em tão pouco tempo, o Método Ramzi não preenche os requisitos para ser considerado, de fato, um estudo científico. Comecemos pelo princípio básico: a pesquisa não passou por nenhuma avaliação mais criteriosa de outros especialistas da área e/ou membros da comunidade científica.
Em segundo lugar - e em consequência ao primeiro ponto - o estudo não está catalogado em nenhuma base de dados científica oficial. Isso faz com que ele se posicione fora do radar de pesquisadores interessados no assunto, que, por sua vez, irão procurar por outros materiais.
Além disso, não há nenhum outro estudo científico que mostre essa relação entre a posição da placenta e o sexo fetal. Na realidade, existe um, feito na Austrália e publicado em 2010 no jornal Ultrasound in Obstetrics & Gynecology, que chegou a uma conclusão oposta. A pesquisa não trouxe nenhuma relação entre posição da placenta e sexo do bebê. Os resultados estavam próximos de 50% para menino e 50% para menina, tanto para placenta à esquerda quanto à direita.
Por fim, outros artigos científicos publicados, cuja intenção era estudar a posição da placenta, não mencionam qualquer relação com o sexo do feto.
Doutor Ramzi?
Outra controvérsia diz respeito ao fato de Saad Ismail Ramzi não ser um médico de fato, embora muitas fontes o citem como “Doutor Ramzi”. Na realidade, ele possui PhD em Saúde Pública e mestrado em Ultrassonografia Médica.
A real intenção do Método Ramzi, segundo o autor
Em 2014, o blog Bottle Soup publicou um texto com críticas acerca do Método Ramzi, classificando-o, entre outras coisas, como um boato. Poucos dias depois, no entanto, o mesmo blog divulgou a resposta de Saad Ramzi Ismail, que aproveitou o espaço para salientar o verdadeiro objetivo de sua pesquisa. De acordo com o autor, sua intenção era detectar o sexo do bebê o mais precocemente possível a fim de prevenir males genéticos espefícicos de cada sexo, em especial a Síndrome de Klinefelter.
A Síndrome de Klinefelter é uma anomalia do cromossomo sexual, que faz com que meninos nasçam com dois cromossomos X e um Y (XXY), ao invés da forma correta “XY”. Trata-se, portanto, da aparição de um “X” extra em sua composição genética.
Disso, podemos concluir que interpretar o Método Ramzi exclusivamente como uma alternativa para saciar mamães e papais ansiosos é uma visão superficial sobre sua função.
Podemos confiar no Método Ramzi?
Como vimos, o Método Ranzi não possui validação científica, haja vista o não reconhecimento do estudo como uma forma confiável de identificar o sexo do feto. Portanto, é preciso ter cuidado ao abraçar certas teorias como se fossem verdades absolutas, fazendo delas o único suporte para ações relacionadas à gestação.
Entretanto, isso não inviabiliza seu potencial benéfico enquanto alternativa, seja para a prevenção descrita pelo autor, seja para um melhor planejamento da gestação e do pós-parto, ou mesmo apenas por matar a curiosidade! O segredo é não criar expectativas exageradas; entender que a dúvida é o sentimento que irá reger o processo e, independentemente do resultado, a tentativa terá sido válida.